Confesso que também tenho ficado confuso com a “polícia da gnose”. Acredito que haja uma certa confusão entre um conceito e um movimento gerado a partir dele, entre gnose e gnosticismo. Uma das teses que defendo é o cuidado que devemos ter com a excessiva racionalização da fé, afinal, não podemos crer que Deus só seja acessível aos extremamente letrados e eruditos, e não sou eu quem diz, é o apóstolo Paulo. Ele, que tinha uma enorme envergadura intelectual, considerou tudo como refugo, para ganhar a Cristo. Não só isso, ele disse em determinada e epístola que abordou aos irmãos daquela igreja não com sabedoria humana, mas com “demonstração do espírito e de poder”, para que a fé deles não se baseasse “em sabedoria humana, mas no poder de Deus.” Escrevi um artigo com este tema, em que detalho um pouco mais tais críticas à racionalização e intelectualização da fé, baseado principalmente nos escritos do apóstolo.
Seu texto é certeiro em identificar esse problema, e é mesmo essencial, quando consideramos as coisas espirituais e seus desdobramentos culturais e políticos, desfazer a generalização e reducionismo aplicados à gnose.
O renascimento católico no Brasil veio junto com essa perspectiva racionalista, daí o combate atabalhoado à Gnose em seu todo. Claro que a razão não é um mal em si. Gosto da ideia de que a fé não nega a razão, mas a aperfeiçoa. O problema é que nos perdemos e nos limitamos a uma abordagem racional (que, além de tudo, é insuficiente, porque também perdemos o domínio da linguagem simbólica, e vejo muito esforço perdido em tentar explicar racionalmente verdades religiosas que apenas podem ser entendidas simbolicamente).
Li seu texto e gostei muito - no meu, lanço brevemente uma consideração sobre a escolástica, mas não a desenvolvo. O fato é que temos esquecido que o Cristianismo tem também um longuíssima tradição APOFÁTICA. Há um lugar que as palavras não alcançam: apenas o silêncio da mística chega a alguns reinos. As tradições orientais têm muito a ensinar sobre isso.
Perfeito. A razão é absolutamente essencial, quando entedemos o homem dentro de uma perpectiva integral, como você tem falado nos seus textos, entendemos que nenhuma parte dele é suficiente isoladamente, e para alcançar verdades espirituais, todo o seu ser é necessário. Eu gosto da resposta de Dostoievski ao racionalismo, ele abraça o irracional humano e mostra que a saída não está no racional, mas no supra racional.
Isso. Muito do pretenso combate ao Gnosticismo é, no fim das contas, combate à dimensão mais elevada da vida religiosa - a mística. E obviamente não há religião íntegra sem mística. A religião se torna outra coisa: uma subversão, no sentido etimológico de uma versão (muito) inferior.
Confesso que também tenho ficado confuso com a “polícia da gnose”. Acredito que haja uma certa confusão entre um conceito e um movimento gerado a partir dele, entre gnose e gnosticismo. Uma das teses que defendo é o cuidado que devemos ter com a excessiva racionalização da fé, afinal, não podemos crer que Deus só seja acessível aos extremamente letrados e eruditos, e não sou eu quem diz, é o apóstolo Paulo. Ele, que tinha uma enorme envergadura intelectual, considerou tudo como refugo, para ganhar a Cristo. Não só isso, ele disse em determinada e epístola que abordou aos irmãos daquela igreja não com sabedoria humana, mas com “demonstração do espírito e de poder”, para que a fé deles não se baseasse “em sabedoria humana, mas no poder de Deus.” Escrevi um artigo com este tema, em que detalho um pouco mais tais críticas à racionalização e intelectualização da fé, baseado principalmente nos escritos do apóstolo.
https://onavegador.substack.com/p/truques-milagres-e-fe-verdadeira
Seu texto é certeiro em identificar esse problema, e é mesmo essencial, quando consideramos as coisas espirituais e seus desdobramentos culturais e políticos, desfazer a generalização e reducionismo aplicados à gnose.
O renascimento católico no Brasil veio junto com essa perspectiva racionalista, daí o combate atabalhoado à Gnose em seu todo. Claro que a razão não é um mal em si. Gosto da ideia de que a fé não nega a razão, mas a aperfeiçoa. O problema é que nos perdemos e nos limitamos a uma abordagem racional (que, além de tudo, é insuficiente, porque também perdemos o domínio da linguagem simbólica, e vejo muito esforço perdido em tentar explicar racionalmente verdades religiosas que apenas podem ser entendidas simbolicamente).
Li seu texto e gostei muito - no meu, lanço brevemente uma consideração sobre a escolástica, mas não a desenvolvo. O fato é que temos esquecido que o Cristianismo tem também um longuíssima tradição APOFÁTICA. Há um lugar que as palavras não alcançam: apenas o silêncio da mística chega a alguns reinos. As tradições orientais têm muito a ensinar sobre isso.
Perfeito. A razão é absolutamente essencial, quando entedemos o homem dentro de uma perpectiva integral, como você tem falado nos seus textos, entendemos que nenhuma parte dele é suficiente isoladamente, e para alcançar verdades espirituais, todo o seu ser é necessário. Eu gosto da resposta de Dostoievski ao racionalismo, ele abraça o irracional humano e mostra que a saída não está no racional, mas no supra racional.
Isso. Muito do pretenso combate ao Gnosticismo é, no fim das contas, combate à dimensão mais elevada da vida religiosa - a mística. E obviamente não há religião íntegra sem mística. A religião se torna outra coisa: uma subversão, no sentido etimológico de uma versão (muito) inferior.