O Medíocre, a Massa e o GPT
For once I myself saw with my own eyes the Sibyl at Cumae hanging in a cage, and when the boys said to her 'Sibyl, what do you want?' she replied, 'I want to die.'
— T. S. Eliot. Epígrafe a The Waste Land, extraída do Satíricon, de Petrônio.
Acredito que não seja uma grande novidade ao leitor lembrar que, em Ortega y Gasset, as massas não se referem àquilo que o senso-comum (no sentido bem brasileiro do termo: não há nada de anglofilia ou de Chesterton aqui) tenderia a imaginar.
As massas dizem respeito, por assim dizer, àquela camada da população que tem uma boa formação para seu próprio tempo, provavelmente um bom nível de sucesso profissional; e, por essas e outras circunstâncias, tem a si mesma no mais alto patamar, julgando-se capaz de compreensão sobre temas que, em verdade, fogem-lhe absolutamente ao entendimento - fato de que nem sequer desconfia.
A massificação leva, neste sentido, ao império da mediocridade. Mas, mais uma vez, não me refiro ao que o senso-comum entende pelo termo.
O medíocre é o mediano. Uma opinião medíocre é dada por gente que pode ser perfeitamente articulada e - diante de seus próprios olhos - perfeitamente capaz de opinar sobre aquele assunto específico, ainda que jamais tenha a ele destinado mais que meia-dúzia de pensamentos entrecortados e duas ou três páginas de leitura ligeira.
O opinador-medíocre, ou a massa-opinante, tem a si mesmo - num impulso genérico e abstrato - em alta conta; e, por conta dessa autopercepção genérica e abstrata, toma-se por capaz de, concretamente, dizer coisas pretensamente relevantes sobre assuntos específicos.
O curso dos tempos levou a uma mudança radical no que toca à disseminação de ideias, textos, conteúdos.
Anteontem, pouquíssimos eram os que escreviam, e sua qualificação era evidente.
Ontem, mais e mais gente disseminava seus próprios textos opinativos: a qualidade principiava a perder-se em meio à quantidade.
Hoje, a quantidade prepondera, e já há uma imensa dificuldade em reconhecer, distinguir, dizer com clareza que isto é produto das massas, aquilo não o é.
Amanhã - ou ainda hoje, já quase findo o dia - quase não haverá espaço senão à massa.
Pois o homem-massa, o opinador-medíocre, a massa-opinante - este sujeito, enfim, se vê de repente turbinado.
Sua opinião ligeira sobre qualquer assunto é traduzido em um comando de dez palavras - um prompt. E a mágica se faz. A opinião-medíocre toma a forma de um texto-medíocre.
Em três cliques, o texto-medíocre se junta a uma profusão massificada e maçante de textos-irmãos, igualmente medíocres, produzidos nos fornos digitais dos algoritmos pós-modernos. Publicações em cima de publicações.
E o artesanal, o orgânico, o artístico? Sem dúvida, há, e sempre vai haver enquanto houver humanidade verdadeira.
Mas a cada dia se perderão mais nos mares da mediocridade massiva, que já toma, e tomará mais e mais, o mundo.